terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Uma história de ficção rústica (Prémio Literário Novos Talentos)

Truz... truz... truz...
— Quem é? Entre, que a porta está aberta, aliás está sempre aberta para todas as criancinhas..
— Xou eu, o T' Zé Broa
— O que é que a excelência deseja? A sua sorte é este colégio ser inclusivo e não elitista, senão já estava...
— Tão, mas voxa exência não apregou para os pais virem botar faladura quando a coisa está preta?
— Só me faltava mais esta... Diga lá, homem, o que é que quer?
— A'nha cachopa nam pisca nada de matemática, e queixa-se da shódoutoura não lhe conseguir ensinar...
— Era o que mais faltava. Agora um professor ensinar um aluno. O sucesso da escola começa em casa, ouviu homem? Você é que tem de ensinar a sua filha a perceber de matemática, não é o professor. Aliás, quem diz matemática, diz português, física, química, ciência, enfim, tudo...
— Tão, mas eu nam estudei nada, como é que póxo ajudar a catraia? Tem de ser a escola, c'os diabos...
— Já lhe disse que o problema da escola são os pais, que não percebem nada de nada. Depois querem que a escola ensine convenientemente os seus filhos. Como se isso fosse possível nos tempos que correm. Olhe, gaste mas é os tostões que tem debaixo do colchão em explicadores, pode ser que resulte...
— Enam, para isso a cachopa não prexixa de vir à escola. Fica lá a guardar a Clarissa, a vaca leiteira...
— Ó homem, então e depois? O que fazíamos ao pessoal que trabalha nos bares? Despedíamos toda a gente, não era? Os garotos têm de vir à escola, naturalmente, mas é para fazermos notas, não é para aprender.
— Raios t'a pardal, se eu entendo alguma coixa disto...